“Não é o ritmo nem os passos que
fazem a dança
Mas a paixão que vai na alma de quem dança.”
Mas a paixão que vai na alma de quem dança.”
Emocionada, agradecia o buquê
de flores que recebera, agradecia os aplausos do público. Ela havia cumprido o
que prometera: dançou como nunca na vida! O tutu azul escuro com pedras
brancas, seus olhos bem marcados, sua pele branca e seu cabelo escuro refletiam
a delicadeza que ela era. Sua felicidade transbordava em seus olhos. A
coreografia executada com perfeição encantou toda a plateia. Os funcionários do
teatro choravam extasiados com sua conquista. Ao olhar pra primeira fileira de
cadeiras: lá estava ele, que há tantos anos sumira, que fora cuidar de seus
sonhos. Os olhos da moça não se contiveram mais, chorava e ria! Ele foi até
ela, entregou-lhe uma rosa simples, e deu um sorriso: “Eu sempre soube que você
faria isso!”. A paz que sentiu foi doce, parecia pisar nas nuvens, parecia que
o cheiro dos jardins da casa de sua avó invadia o ambiente, parecia estar no
mar num fim de tarde, tantos risos, tantas lembranças. Ela fez seu trabalho!
Fez o que mais ama na vida! Entregou-se de alma. Depois de um acidente como
aquele, era difícil imaginar que ela ficaria em pé novamente, no entanto estava
ali, dançando. Viu a morte chegar e levar um irmão e uma amiga. Os anos que
passou sem andar... As tristezas que sentia... Mas estava ali, deslumbrante. Olhando
os olhares cheios de júbilo e sentindo que o teatro queria vê-la. Foi seu
primeiro solo após o acidente. E ele estava ali para vê-la, no momento mais importante. Ela entrou então no camarim, desfez a
maquiagem, trocou de roupa, e saiu. Ele estava esperando-a no corredor, com um
sorriso de satisfação e emoção profunda. Abraçaram-se. Ela não via mais nada,
apenas sua vida de volta: arte, amor, dança e vida! Fechou seus olhos e sorriu.